Crônicas, pensamentos e reflexões.

O que lhe parece mais sensato ter sido dito há dois mil anos atrás: “Se arrependa e perdoe” ou: “Olha, fulano(a), o arrependimento ativa a amigdala, uma região do seu cérebro associada às emoções e, sendo assim, você ficará triste, sentirá remorso e aumentará sua autocrítica. Já o perdão, porém (que envolve seu córtex Cingulado Anterior, que também está relacionado à empatia e seu córtex Pré-frontal medial, responsável pela tomada de decisão e julgamentos morais), pode reduzir o estresse causado pelo ódio crônico, melhorando seu bem-estar e sua saúde cardiovascular e, ainda, reduz os sintomas da depressão. Então, arrependimento seguido do perdão, pode lhe promover um salto em seu desenvolvimento humano. Entendeu?”

                Poderia continuar dizendo: “Não odeie”, ou simplesmente: “Fulano(a), odiar não é legal, porque libera hormônios e neurotransmissores como a Adrenalina e cortisol. Isso não é bom, porque pode gerar confusão no Giro frontal medial, Putâmen, Córtex Pré-motor e insula medial, afetando suas informações sensoriais e cognitivas.  Nós não queremos isso, né?”

                Mas não se trata só disto. Explicar a funcionalidade de valores pela psicologia e neurociência, só confirma o fato de que os próprios valores não têm tido seu reconhecimento intrínseco. Muitas vezes por serem associados às instituições, e não pelo que carregam consigo mesmos, foram negligenciados e submetidos a deterioração temporal na qual as próprias instituições estão submetidas. É importante considerar, também, o contexto cultural da época e que linguagem era mais acessível – O que não significa, em hipótese alguma, que os próprios valores fossem temporais.

                 A envergadura intelectual promovida pela empatia é um desafio que ultrapassa vieses e comportamentos de rebanho. A prática da empatia implica, diretamente, no crescimento pessoal e é arma poderosa contra o preconceito e julgamentos; porque aquele que é capaz de se colocar no lugar do outro antes de julgar, pode encontrar em si mesmo a razão de seu julgamento, como bem disse Freud: “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”.

                Olhar para dentro é um ato de heroísmo, pois é doloroso e não visa aplausos. É uma batalha na primeira pessoa do singular; sem plateia, testemunha e a recompensa está no próprio ato. É o contato com as próprias misérias e o abrir de portas para descobrir os esqueletos escondidos no armário. Portanto, é muito mais fácil reconhecer essas mazelas no outro e criticá-las, esquivando-se da própria dor que o olhar para dentro resultaria.

“Se eu errei, aponta meu erro, mas, se não errei, por que me bate?” João 18:23.

Referências bibliográficas

Adelman, G. “The Neurosciences Research Program at MIT and the Beginning of the Modern Field of Neuroscience.” Journal of History of Neurosciences, v. 19, p. 15-23, 2010.

Bear, M. F.; Connors, B. W.; Paradiso, M. A. Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 2a ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Bennett, M. R.; Hacker, P. M. S. Philosophical foundations of neuroscience. Oxford: Blackwell Press, 2003.

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