Crônicas, pensamentos e reflexões.

Com suas vozes empostadas e olhares sérios, ganharam confiança. Afinal, esses elementos somados à atribuição de vasto conhecimento sobre os fatos, fizeram dos personagens da velha mídia “símbolos da informação e confiança”, pois, na crença popular, sustentada pela boa fé das pessoas que consomem seu conteúdo, seria, no mínimo, imoral, pessoas de aparência e educação tão refinadas prestar-se ao papel repugnante de manipular a opinião pública.  

                E assim, trabalhando durante décadas, solidificou-se tal imagem confiável – até porque, além de não haver muitas opções, a crença popular de que “ a mentira tem pernas curtas” te favoreceu ao ignorar o fato de que suas pernas são proporcionais ao seu tamanho.

                Hoje, diante da constatação de parcialidade, usam de estratégias vergonhosas para desqualificar qualquer um que tenha opinião contrária; o que comprova, de forma inequívoca, que a notícia não é mais seu objeto de trabalho, mas sim, a narrativa que a acompanha. O pau que bate em Chico não bate em Francisco. Não mais.

                Duplo padrão, indignação seletiva e a maliciosa escolha de palavras me fazem refletir sobre o que disse Santo Agostinho em Confissões: “A retórica é o ofício da tagarelice”. Fato, sujeito e predicado dançam e se adaptam de acordo com os interesses daqueles que já morreram por dentro, pois, ter conhecimento de que suas narrativas irresponsáveis alcançam e influenciam milhões de pessoas, já lhes garante lugar em Antenora¹ – pressupondo que ainda tenham alma, claro.

                Não há honra no seu desserviço. Mentes pequenas dividem, vieses cognitivos induzem ao erro, e a alienação aprisiona. Tampouco há ética ou integridade na parcialidade. A serviço do engano você morreu, velha mídia. Não sentiremos sua falta.

¹Antenora é uma das quatro divisões do nono círculo do inferno destinada aos traidores da pátria, em A Divina Comédia de Dante.

Abril de 2013

         Questionei o demônio e ele me apontou o orgulho; questionei o orgulho e ele me apontou a carência; questionei a carência e ela me apontou a criança. Confuso, questionei a criança, ela me apontou o espelho. Ao olhar para o espelho, vi minha imagem refletida, não reparei se havia algo além dela. Conheci o ego. A busca terminou, ali estava a origem do mal, que só a criança poderia apontar.

Data atual

         Ninguém ouviu, mas ali estava a inocência sendo dilacerada, tendo seus sonhos destruídos. Anos mais tarde, todos se perguntavam: “Por que ele deixou de ser amável?”. O Silêncio como testemunha da desconexão entre a proteção esperada e realidade como opositora.

         Seus sonhos ainda estava ali, aprisionados pelos grilhões da aprovação que nunca viera. Porém, mais vivos que nunca, ainda que a incapacidade de recordar aquilo que outrora o aprisionara o impedia de romper as amarras, pois não as enxergava. Mas a quem responsabilizar além da ignorância?

         Certa vez, Jung disse: “O ego não é mais que um pequeno palmo de luz circundado pelas sombras e não pode, de modo algum, atingir o ser, ou usurpar-lhe o papel, pois o ser é o todo, o indefinível, enquanto o ego é a parte bem definida.” – Jung escreveu, também, a introdução da obra “Ensinamentos Espirituais” de Ramana Maharshi, onde o autor afirma que tudo que vem depois do “eu sou”, provém do ego.

         Falta humildade no mundo. Falta a simples admissão da própria pequenez inflada pela ilusão presunçosa de quem pouco vê. Os “donos da verdade” que são incapazes de admitir a própria condição pequenina na equação da vida e que, buscam, a todo custo, enfiar goela abaixo suas “verdades” que provém da visão limitada dos seus egos soberbos. “Só sei que nada sei” – A frase atribuída a Sócrates, que através da maiêutica que buscava a verdade, deveria ser mais lembrada nos dias de hoje.

         A única chance de uma visão mais ampla é a disponibilidade para enxergar outras perspectivas, isso, porém, só é possível através da empatia e humildade. Qualquer grupo que tenta subverter outro antes de tal prática, é limitado, e ignora a lógica, sem exceção.

         A inocência explora, observa, aprende sem preconceitos. É o olhar puro do desbravador do mundo que se apresenta diante de seus sentidos e obtém a recompensa imediata na própria jornada.

Referências bibliográficas:

Jung, C.G. (1961). “Memories, Dreams, Reflections” (Memórias, Sonhos, Reflexões). Vintage Books, p. 324 (na edição em inglês).

Ramana Maharshi Título: Ensinamentos Espirituais Local da Publicação: São Paulo Editora: Cultrix Ano da Publicação: 1993.

O que lhe parece mais sensato ter sido dito há dois mil anos atrás: “Se arrependa e perdoe” ou: “Olha, fulano(a), o arrependimento ativa a amigdala, uma região do seu cérebro associada às emoções e, sendo assim, você ficará triste, sentirá remorso e aumentará sua autocrítica. Já o perdão, porém (que envolve seu córtex Cingulado Anterior, que também está relacionado à empatia e seu córtex Pré-frontal medial, responsável pela tomada de decisão e julgamentos morais), pode reduzir o estresse causado pelo ódio crônico, melhorando seu bem-estar e sua saúde cardiovascular e, ainda, reduz os sintomas da depressão. Então, arrependimento seguido do perdão, pode lhe promover um salto em seu desenvolvimento humano. Entendeu?”

                Poderia continuar dizendo: “Não odeie”, ou simplesmente: “Fulano(a), odiar não é legal, porque libera hormônios e neurotransmissores como a Adrenalina e cortisol. Isso não é bom, porque pode gerar confusão no Giro frontal medial, Putâmen, Córtex Pré-motor e insula medial, afetando suas informações sensoriais e cognitivas.  Nós não queremos isso, né?”

                Mas não se trata só disto. Explicar a funcionalidade de valores pela psicologia e neurociência, só confirma o fato de que os próprios valores não têm tido seu reconhecimento intrínseco. Muitas vezes por serem associados às instituições, e não pelo que carregam consigo mesmos, foram negligenciados e submetidos a deterioração temporal na qual as próprias instituições estão submetidas. É importante considerar, também, o contexto cultural da época e que linguagem era mais acessível – O que não significa, em hipótese alguma, que os próprios valores fossem temporais.

                 A envergadura intelectual promovida pela empatia é um desafio que ultrapassa vieses e comportamentos de rebanho. A prática da empatia implica, diretamente, no crescimento pessoal e é arma poderosa contra o preconceito e julgamentos; porque aquele que é capaz de se colocar no lugar do outro antes de julgar, pode encontrar em si mesmo a razão de seu julgamento, como bem disse Freud: “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”.

                Olhar para dentro é um ato de heroísmo, pois é doloroso e não visa aplausos. É uma batalha na primeira pessoa do singular; sem plateia, testemunha e a recompensa está no próprio ato. É o contato com as próprias misérias e o abrir de portas para descobrir os esqueletos escondidos no armário. Portanto, é muito mais fácil reconhecer essas mazelas no outro e criticá-las, esquivando-se da própria dor que o olhar para dentro resultaria.

“Se eu errei, aponta meu erro, mas, se não errei, por que me bate?” João 18:23.

Referências bibliográficas

Adelman, G. “The Neurosciences Research Program at MIT and the Beginning of the Modern Field of Neuroscience.” Journal of History of Neurosciences, v. 19, p. 15-23, 2010.

Bear, M. F.; Connors, B. W.; Paradiso, M. A. Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 2a ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Bennett, M. R.; Hacker, P. M. S. Philosophical foundations of neuroscience. Oxford: Blackwell Press, 2003.